quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Negros de pele branca


No último ano morreram mais de 25 albinos na Tanzânia. Foram cruelmente assassinados e mutilados para rituais de feitiçaria. O Governo quer acabar com a matança, mas os crimes sucedem-se.

O pior inimigo dos albinos é o sol, uma vez que o organismo destas pessoas não produz melanina, o pigmento responsável pela coloração e consequente protecção da pele. Mas em países africanos, como a Tanzânia, há inimigos bem piores: pessoas que matam albinos e lhes retiram partes do corpo.
Não o fazem por uma questão racial, apesar da discriminação para com as pessoas diferentes ser habitual. Fazem-no por superstição: Acredita-se que aqueles que possuem, ou consomem poções com partes do corpo de albinos terão sorte.
Por causa disso foram violentamente assassinadas 26 pessoas no último ano. As mais recentes foram dois homens e um bebé de sete meses, arrancado dos braços dos pais e mutilado de seguida, segundo informações da BBC.
A última vítima, identificada pelo órgão de informação britânico, foi Jovin Majaliwa, numa vila remota do Lago Vitória. Como outras vítimas, foi assassinado em casa, mas a polícia ainda não revelou mais informações. A mulher, também albina, conseguiu fugir e está a ser tratada num hospital pelos ferimentos que sofreu.
Apesar das tentativas governamentais para acabar com o estigma, incluindo a nomeação de uma albina para o Governo, as mortes continuam a suceder-se aterrorizando todos os que vivem com esta condição genética. E não são tão poucos quanto isso. Só na Tanzânia calcula-se que sejam cerca de 170 mil e estima-se que em África uma em cada quatro mil pessoas são albinas.
Outra das medidas do presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete, passa por identificar os albinos que existem no país para que possam ter protecção policial. No entanto, segundo a investigação levada a cabo pela BBC, a polícia pode estar envolvida na rede que abrange curandeiros e assassinos. Uma acusação negada pela polícia que diz estar a trabalhar com a comunidade para identificar os assassinos.

Rituais de feitiçaria
A prática de matar e retirar partes do corpo de albinos está ligada à crença de que estes são seres que trazem fortuna. Mas não se pode dizer que os afortunados sejam os albinos.
«As pessoas pensam que temos sorte por sermos albinos, por isso é que estamos a ser mortos. Mas nascer albino na África equatorial com pouca, ou nenhuma pigmentação para proteger a pele, é uma maldição», disse a Al-Shaymaa Kwegyir, a nova albina com assento parlamentar.
E se até aqui o maior problema dos albinos era lidar com não só com a discriminação, como também com os problemas de saúde provocados pelo albinismos: o cancro de pele e a cegueira (os olhos também são afectados pela falta de melanina), agora vivem com medo de ser assassinados: «Eu cresci a ser mal tratado por todos na escola e aprendi a viver com o desdém ao longo da minha vida, mas nunca tive medo como tenho hoje em dia», revelou Samule Mluge, secretário-geral da Sociedade de Albinos da Tanzânia (TAS).
Por isso muitos albinos estão a fugir das zonas rurais, mais propicias a crenças em bruxarias e superstições. Nas aldeias à volta do lago Vitória é frequente, por exemplo, os pescadores usarem cabelos de albinos nas redes, porque acreditam que assim pescam mais peixes.
O que ninguém parece conseguir explicar é o porquê destes crimes estarem a acontecer agora. O comissário da polícia de Dar Es Salaam (a maior cidade da Tanzânia) Paul Chagonja, relaciona estas matanças com a nova onda de filmes nigerianos sobre bruxaria, juntamente com o desespero das pessoas por causa da crise alimentar.
Até ao momento foram acusadas 173 pessoas implicadas nas mortes de albinos, desde curandeiros, mediadores até clientes, mas não houve ainda nenhuma acusação formal. (in África Today)