Cerca de dois milhões de mortes anuais. É este um dos resultados do aumento da poluição em grandes cidades da América do Sul e Ásia. O alerta foi lançado pela Organização Meteorológica Mundial, por ocasião do Dia da Meteorologia.
Em Portugal, Lisboa e Porto também não apresentam um registo notável nesta matéria. Lisboa regista mesmo os segundos piores níveis de PM10 (partículas inaláveis) na atmosfera entre as 27 capitais europeias, depois de Roma. De acordo com um estudo realizado pela Agência Europeia do Ambiente (AEA), com base em amostras recolhidas em 2000 cidades (como Antuérpia, Barcelona, Bruxelas, Londres, Paris e Roma), a capital portuguesa está entre as 20 da Europa com o ar mais poluído.
A estação de monitorização que coloca a capital portuguesa nesta posição crítica, a da Avenida da Liberdade, em pleno centro da cidade, é mesmo o ponto do País que apresenta os níveis mais preocupantes de PM10. Em 2005, os limites de partículas chegaram a ser superados em mais de 180 dias, quando o máximo permitido é de 35.
Segundo a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), os dados do ano passado ainda não estão disponíveis, mas, até ao final de Agosto de 2008, havia 55 dias com excedências ao valor limite diário (média diária de 50 mg/m3), ou seja, mais uma vez acima do limite legal.
Este é um dado que não surpreende, já que há quatro anos que Portugal está em infracção por excesso de poluição atmosférica. Não é assim de estranhar que a Comissão Europeia esteja insatisfeita com o desempenho português em relação à qualidade do ar, tendo emitido, em Janeiro, dois avisos por incumprimento sobre a qualidade do ar nas zonas da Grande Lisboa e Norte.
Automóveis e Sahara na origem da poluição
O tráfego rodoviário é o principal emissor dos poluentes que afectam a qualidade do ar da capital portuguesa, pela sua intensidade e pela tipologia dos veículos, muitas vezes a gasóleo, e em circulação há muitos anos. Para além disso, partículas provenientes de eventos naturais no deserto do Sahara podem também afectar Portugal e provocar um aumento dos níveis verificados em alguns locais.
«As características orográficas e meteorológicas também contribuem, no caso de Lisboa, para um agravamento das concentrações de poluentes», frisa Francisco Ferreira, docente do Departamento de Engenharia e Ciências do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
A nível nacional, a análise ao cumprimento legal dos valores dos poluentes, entre 2001 e 2004, indicou que as aglomerações da Área Metropolitana de Lisboa (AML) Norte, Sul e Setúbal excederam os valores-limite e as respectivas margens de tolerância, no que respeita às PM10 e, em particular a AML Norte, em relação ao dióxido de azoto (NO2). As emissões do tráfego rodoviário (principalmente nos centros urbanos e artérias de movimento automóvel mais intenso) e da indústria (no caso do dióxido de enxofre, na zona do Barreiro) são as principais responsáveis pelos níveis de poluição nesta zona.
Lareiras poluem ar do Norte
Na região Norte do País, as lareiras são uma importante causa identificada para a degradação da qualidade do ar. As combustões domésticas são responsáveis por quase 20 por cento das emissões de partículas para a atmosfera. A conclusão faz parte de um estudo apresentado na assembleia-geral da Atmospheric Composition Change: the European Network Excellence, na Universidade de Aveiro, que se realizou em Fevereiro.
A estação de monitorização de Vila do Conde apresenta a situação mais grave. Em 2008 registaram-se, pelo menos, 47 dias com excedências ao valor limite. As outras duas estações, que em Agosto do ano passado já tinham ultrapassado o máximo permitido para todo o ano, estão localizadas em Paio Pires (Seixal), com 38 dias de excedências, e em Espinho, com 44 dias.
Os dados de 2007 revelam, no entanto, que quatro estações de monitorização da qualidade do ar no Norte e uma em Lisboa registaram mais de 30 por cento dos dias do ano com valores de poluição por partículas inaláveis excessivos. Foi o caso da Avenida da Liberdade com 149 dias e, no Norte, Espinho com 127 dias, Matosinhos com 112 dias, Vila do Conde com 110 dias e Braga (na Circular Sul) também com 110 dias em excesso.
Na zona do Algarve, de acordo com fonte da CCDR Algarve, não foram feitas medições em 2008, devido à manutenção do equipamento. «O processo será retomado em 2009», garante a mesma fonte.
No caso da região alentejana, em 2008 não ocorreram ultrapassagens aos limites definidos pela legislação para nenhum dos poluentes medidos na Rede de Medida da Qualidade do Ar do Alentejo, assegura fonte da CCDR Alentejo. (in AmbienteOnline)